Sei que vou correr o risco do exagero, mas não tenho medo em afirmar: sou apaixonada pelo Jornalismo Investigativo. E os motivos são muitos.
Jornalismo Investigativo (que aqui denominarei JI para facilitar) envolve bom senso, pesquisas, paciência, coragem, conhecimento, técnica, aprimoramento, superação, vivência... Requer uma gama de qualidades difícil de se encontrar num profissional.
Há quem afirme, inclusive, que jornalismo é sempre investigativo, não se justificando sequer o termo. Não penso assim. Existe muito noticiário feito em cima de press releases, com o repórter ou editor sequer checando as informações. Que fará investigando de verdade.
A preguiça afeta até (maus)alunos de Jornalismo, que obrigam os professores a um serviço extra bastante desagradável: checar se não furtaram partes de reportagens divulgadas na web e as utilizaram nos projetos experimentais, na mais absoluta falta de ética. Entrevistar? - Ai, que preguiça! Investigar? - Jamais.
Imprescindível para a democracia, o JI é pouco ou erradamente praticado nas Redações, ganhando mais espaço nos livros. E aí, também temos vários motivos a comentar. Tempo e dinheiro são dois deles. Investigar exige dias, senão meses seguidos de trabalho sem retorno imediato. Ou seja: as empresas jornalísticas bancam o profissional mas não podem contar de pronto com a matéria. Para muitas, isso é visto como um desperdício.
Os problemas também estão relacionados ao espaço disponível para a divulgação da reportagem investigativa. Na correria para vencer a concorrência, eles são ocupados mais com notícias e reportagens curtas ou médias. E é praticamente impossível resumir a poucos centímetros ou minutos o conteúdo de reportagens investigativas. Sem falar na publicidade, que ocupa muito espaço. Afinal, não podemos esquecer que as empresas jornalísticas, como qualquer outra, precisam sobreviver e obter lucro.
O JI é, em geral, um exercício solitário e perigoso. Muitos jornalistas já correram risco de vida - e vários, como Tim Lopes, em 2002, no Rio de Janeiro - morreram durante investigações.
Para se ter uma idéia, dados da Fenaj apontam que no ano passado, só no Estado de São Paulo foram registrados nove casos de atentados contra jornalistas, seguidos de cinco no Pará, quatro em Rondônia e três no Rio de Janeiro.
Sujeitos a violências, represálias, intimidações, os repórteres também sofrem com a pressão de chefias que, distantes do trabalho nas ruas, favelas, guetos, cadeias, não medem os riscos que os repórteres estão correndo.
Há alguns anos, fazendo a cobertura de um incêndio num morro santista, eu e o repórter fotográfico fomos convidados a abandonar o local a tiros de revólveres. De volta à Redação, sujos e machucados (rolamos barrancos para nos salvar) e abalados emocionalmente, ouvimos do editor que teríamos que voltar ao local para completarmos a matéria. Não fomos, é claro!
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo não tem se furtado a denunciar a violência contra repórteres. Quanto às escolas de Jornalismo, como professores universitários e jornalistas, não podemos deixar o assunto de lado. Eu mesma, na então condição de coordenadora de curso, coloquei a disciplina Jornalismo Investigativo na grade curricular, pela sua importância e atualidade.
Porém, mais do que tudo, não podemos perder de vista e é preciso deixar bem esclarecido que, apesar de apaixonante, o Jornalismo Investigativo não vale uma vida.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
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