Eduardo Ribeiro (*)
Quem se aventurasse a um passeio pelas redações dos veículos do Grupo Estado no final da manhã desta terça-feira certamente encontraria um imenso vazio humano, quase sem viva alma. E por incrível que pareça tratava-se de um vazio provocado por uma reunião, ou melhor, por uma plenária, que tinha como objetivo apresentar a todos os profissionais do jornalismo da casa as novas orientações editoriais que querem colocar os produtos Estado up to date com o que de mais moderno se faz no mundo da informação. Entre elas – e aí está a ponta de ironia – a de que o novo jornalismo de uma empresa de comunicação se faz não mais hierarquicamente, buscando um deadline de fechamento, mas durante as 24 horas do dia, sete dias por semana, 365 dias por ano – isso quando não for ano bissexto, porque neste caso o número passa a 366. Isso quer dizer que qualquer que seja o momento, as redações terão de estar preparadas e com equipes responsáveis para colocar online no ar informações relevantes, sem deixar obviamente de preparar os produtos com hora marcada, que levarão para o público informações organizadas e hierarquizadas, necessárias para organizar o pensamento e o melhor entendimento da realidade.
Cerca de 270 jornalistas das várias redações do Grupo Estado acotovelaram-se no auditório da empresa, onde a capacidade máxima de pessoas sentadas é de 250. E desses pelo que apurou este Jornalistas&Cia mais de 170 eram repórteres.
No encontro, que reuniu profissionais de O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, Agência Estado, portal e Rádio Eldorado, o diretor de Conteúdo, Ricardo Gandour, falou sobre o projeto Fase 3, que prevê mudanças ainda mais intensas na área de conteúdo e do intenso envolvimento nesse processo de toda a cadeia produtiva e não mais apenas dos editores e diretores da casa.
Para melhor entender esse processo, que começou em 2004, em parceria com a consultoria Cases, de Barcelona, é preciso lembrar que o Fase 1 foi o redesenho do Estadão em 2004. O Fase 2, já na gestão de Gandour, em janeiro de 2007, mudou a arquitetura das redações, integrou os mesões de Estado, JT e portal e implantou um estúdio de tevê no meio da redação.
Os projetos Rumos e Fase 3, iniciados este ano, têm o objetivo de revisar processos editoriais, potencializar a atuação multimídia e otimizar a alocação de recursos, contemplando um processo contínuo de produção e edição ao longo das 24 horas do dia. Além disso, foram estudados e debatidos os rumos do jornalismo de qualidade no mundo todo. Os trabalhos mobilizaram os principais editores de todo o Grupo, em grupos de trabalho e reuniões plenárias. O Fase 3, especificamente, altera horários e rotinas dos jornais, o que já começou a ser feito na semana passada, aproxima mais as produções de todo o grupo e, além de aprofundar a visão multimídia nas pautas, cria a Central de Notícias, espécie de “rádio-escuta 2.0”, que já está em implantação mas irá operar a partir de novembro.
Esses dois projetos começaram em fevereiro, com um ciclo de palestras internacionais, do qual participaram, entre outros, executivos do The Guardian, do Clarín e o designer espanhol Toni Cases. Neste mesmo ciclo, jornalistas da casa relataram visitas feitas a jornais do exterior, como Washington Post, New York Times e diversos outros jornais norte-americanos. Depois, foram criados nove grupos de trabalho que mobilizaram mais de 50 jornalistas da casa e que culminaram com propostas debatidas em plenárias com todos os editores.
Um dos editores do jornal, a propósito, disse a esta coluna que, por envolver toda a equipe, este projeto tem contado com ampla participação e uma motivação muito grande de todos. Ele garantiu ainda que obviamente ninguém ali vai revelar o pulo do gato, mas os resultados estarão visíveis em poucos meses... nas bancas, no rádio, na web...
Versão aberta na internet – A versão impressa do Estadão está temporariamente disponível, na íntegra, para todos na internet, e não apenas para assinantes, com diversas facilidades de navegação, no http://digital.estadao.com.br/home.aspx . Segundo o diretor de Circulação do jornal, Antonio Hércules, “isso é uma ação de degustação, com uma nova tecnologia, mas será fechado em outubro”.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia "Fontes de Informação" e o livro "Jornalistas Brasileiros - Quem é quem no Jornalismo de Economia". Integra o Conselho Fiscal da Abracom - Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
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