Uma entrevista que fiz há mais de 10 anos com o prof. Dr. Edmir Perotti, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), foi o suficiente para que eu me entusiasmasse com a possibilidade de ver criado em Santos um Centro de Documentação da História Oral.
O Dr. Perotti coordenava já há alguns anos, na ECA/USP, um trabalho com alunos e docentes dos cursos de Educação e Comunicação que, apesar de alguns diferenciais em relação ao que projeto que um dia imaginei, tem em comum o resgate da história da cidade pela oralidade, com entrevistas com moradores, comerciantes, artistas, etc.
A história oral refere-se ao resgate da memória de determinado local, feito através de histórias contadas pelos seus habitantes, que deverão dar depoimentos, relatar experiências, suas lutas, “causos”, conhecimentos de fatos, comentários sobre o cotidiano do modo de vida em décadas passadas, com observações sobre família, amigos, colegas, configuração geográfica do espaço urbano e opiniões pessoais.
Dentre seus principais objetivos, destaco três:
1. Criar arquivos sobre as experiências passadas e presentes dos sujeitos sociais, que não são esgotadas pelos historiadores e não têm espaço na imprensa, mantendo fontes diferenciadas para pesquisas abertas a estudantes, instituições educacionais e demais interessados.
2.Trabalhar com as pessoas, valorizando suas experiências de vida, importantes para a perpetuação da história popular da cidade e/ou municípios vizinhos, com características diferenciadas das propostas dos cursos voltados à terceira idade
3. Despertar nos jovens o interesse pelas histórias (vivências) dos mais velhos.
Num trabalho de história oral, os entrevistados deverão ser pessoas com conteúdo e experiência de vida, nas mais diferentes atividades, que relembrem fatos do cotidiano que representam de alguma forma a memória popular de suas comunidades. Ex: trabalhadores de profissão em extinção (tipógrafos, datilógrafos) e outros que tenham relatos importantes de vida ligados ao desenvolvimento da cidade; e ainda: professores; feirantes; artistas (poetas, escritores, músicos); moradores de morros e outros bairros; esportistas, políticos, donas de casa, comerciantes, etc. A lista é inesgotável.
Em Santos, a única fonte que pesquisa com traços de história oral da comunidade (obtidos através de entrevistas com o povo), é o Departamento de Arquivo e Pesquisa do jornal A Tribuna.
Pelas razões comentadas aqui e por tantas outras é que, com o mesmo entusiasmo de quando ouvi o dr. Perotti falar sobre história oral, há mais de uma década, vejo hoje a iniciativa da Fundação Arquivo e Memória de Santos e da Unimonte de lançar o projeto Memória Oral, voltado ao resgate do passado da cidade.
Ele chega tarde, pois muito da rica história oral de Santos já se calou com a morte de tatos santistas que tinham o que contar. Mas, sem dúvida, enquadra-se perfeitamente no ditado popular “antes tarde do que nunca”.
terça-feira, 29 de julho de 2008
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Um comentário:
Voce usou a expressão correta: entusiasmo. Resgatar fatos e verdades não contadas pelos historiadores, trazer experiências esquecidas pela imprensa, com certeza, deve ser fascinante.
Abraços Luiz Otávio.
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