Sinto-me, neste momento, como as pessoas que escrevem recados para seus mortos e publicam nos jornais: sabem que eles (os mortos) jamais vão ler o que escreveram. Mas é uma forma de desabafo, de tentar mostrar ao mundo a dor que estão sentindo por uma perda.
Sei que os ministros do Supremo Tribunal Federal não vão ler o que escrevo. Eles não têm tempo para isso, nem acesso ao que os simples humanos fazem. Imagine ao que uma jornalista e professora universitária possa escrever em seu blogue.
Mas, até por força da profissão, não posso deixar de dizer o que penso diante do fato de que eles decidiram que para ser jornalista, não é mais preciso ter diploma de nível superior.
Senhores ministros: sou filha de pais que só tiveram o ensino primário. Ele, eletricista, e ela, dona de casa. Fiz o primário, o ginásio e o magistério numa excelente escola, graças a bolsas de estudos. Saibam vocês que se eu tirasse nota menor que sete, perdia a bolsa. E a oportunidade de estudar num ótimo colégio, é lógico.
Quando me formei, minhas amigas, todas de famílias com excelentes condições financeiras, escolheram os cursos superiores que cursariam. E eu, única jovem de uma extensa família pobre que conseguira concluir o magistério, quis sonhar mais alto.
Fui trabalhar no comércio, juntei dinheiro e paguei a taxa do exame vestibular para o curso de jornalismo. Era minha escolha natural, já que sempre gostei de gente, de escrever, de conhecer e debater problemas sociais.
Quando saiu a lista de aprovados e levei meus pais para lerem meu nome no papel afixado no quadro de recados da parede da faculdade, eles me abraçaram e pediram para desisitir, porque nós não tínhamos dinheiro para pagar a faculdade.
Mas eu, teimosa, continuei trabalhando de dia estudando à noite. O que eu ganhava mal dava para pagar a mensalidade. Eu andava a pé e comia um sanduíche de refeição diária. Pelo menos, eu era magrinha, nos moldes que as mulheres tolas se exigem ser, hoje em dia, por pressão social.
No segundo ano de faculdade eu já trabalhava numa editora de jornais e revistas e no início do terceiro, a Empresa Folha da Manhã S/A abriu inscrições para repórteres provisionados. E eu consegui uma das vagas.
Essa oportunidade, senhores juízes, foi obtida porque nos testes eu apliquei tudo o que tinha aprendido até então, na faculdade, com meus mestres. Eu tive a honra de ser aluna de profissionais como Esmeraldo Tarquínio da Silva, Rubens Ewald Filho, Neide Veneziano,Dirceu Fernandes Lopes, Ouydes Fonseca, Vicente Cascione e tantos outros. Foram eles quem me ensinaram disciplinas de formação humana e técnica, necessárias à profissão que exerço até hoje.
Quando conclui a graduação em jornalismo, entreguei à Folha meu diploma e meu MTb, imprescindíveis para continuar no exercício da profissão. Caso contrário, outra pessoa, também qualificada para tal, ficaria no meu lugar.
Meu diploma foi a porta que se abriu para que a filha do operário e da dona de casa competisse em igualdade de condições com os filhos dos mais abastados no mercado de trabalho. Afinal, eu nunca tive pistolão ou QI (quem indica). Meus pais não conheciam figuraões que me dessem oportunidade num jornal e eu não tinha sobrenome famoso.
Por isso, senhores, eu não acreditava que vocês fossem fazer o que fizeram. Jamais imaginei vê-los tão distantes da realidade do povo brasileiro no quesito educação/mercado de trabalho.
Vocês agiram na contramão do próprio programa que o Governo apregoa como sendo a menina dos olhos da administração atual, o Proune. Afinal, dizem, o Proune foi criado para que a educação de nível superior permita igualdade de condições de acesso ao mercado de trabalho qualificado à maior parcela de brasileiros: os sem condições de pagar os estudos.
Meu diploma, senhores ministros, não me deixou rica financeiramente, mas permite-me ter uma profissão digna e ser respeitada no meu meio social, na minha família e, em especial, por mim mesma.
Por isso, senhores, meu diploma é muito, muito valioso. Não importa o que vocês pensem, achem e façam.
sábado, 20 de junho de 2009
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